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Race Report IronMan African Championship

Race Report é uma análise dos fatos do ponto de vista do atleta, e tem como objetivo demonstrar a dificuldade do esporte na categoria Profissional e também ensinar o que aprendemos na competição:


Ironman African Championship - 07/04/2019


O dia começou bom, às 3:50h da manhã. Iniciei minha rotina diária pela começando com um pequeno café da manhã com 3 bananas, aveia, mel e 2 fatias de pão de forma. Logo depois tive uma aula com o Thi Arruda de mentalização e energização corporal através de exercícios de respiração.

Como já previsto no Weather Channel a previsão do tempo para o dia estava das piores, com muito vento e o mar bastante mexido.

A nossa expectativa para a prova era alta, pois viemos de uma bela preparação física e mental ao longo de meses e 2 competições de Ironman 70.3 em 2019. Então com certeza visualizamos a disputa pelo título. Claro que sabíamos da dificuldade da prova devido ao nível dos atletas estavam ali, 38 atletas de Elite onde 18 deles participaram do Mundial nos últimos 2 anos e 10 desses 18 foram TOP 10 do mundo. Mas os números batiam, a mente estava focada e passamos uma ótima pré-semana de prova sem ansiedade com muito foco e treino mental com o Thi Arruda que me acompanhou na prova.

Às 5:40h chegamos na área de transição, arrumamos a hidratação, sapatilha na bike, checamos calibragem dos pneus, capacete, etc.... tudo em ordem.

às 6h partimos para a praia para área de largada. Como o mar estava gelado, por volta de 14ºC, e mexido, nenhum profissional foi para a água para o aquecimento.

Havia uma decisão a ser tomada na hora da largada pelos profissionais que envolveria todos os demais atletas da prova, que seria encurtar os 3.8km de natação para 2km, com 2 condições: mar extremamente mexido ou a água a baixo de 13ºC. Eu não vi nenhuma das duas opções então fui para o canto aquecer e alongar, e nesse meio tempo o diretor de prova junto com os demais atletas profissionais se reuniram e decidiram encurtar a prova visando a segurança de todos . Erro meu, pois é minha obrigação estar atento a todos os detalhes, principalmente sabendo desta opção. Eu vi a conversa mas não me aproximei para saber do assunto e perdi a informação.


6:30h o canhão atirou. Largamos, tive um excelente início de largada, estava no 1º bloco na 1ª bóia com 300 metros, e continuamos. Um pequeno grupo se destacou, mas o grupo maior se manteve, nisso eu sai um pouco da esteira e fui nadar fora do grupo para poder acalmar a mente com o mar mexido e ondas que acabavam jogando um atleta no outro. Nisso, passados alguns minutos eu não vi nenhum atleta, parei de nadar coloquei a cabeça para fora da água e vi que retornaram na bóia anterior, acredito que uns 20 metros, no máximo, para trás. Aquilo foi um tiro no pé. A conta é simples, em uma prova com um nível desse se você perder 1 minuto do grupo principal é como se tivesse perdido uns 10 minutos. Mesmo com a regra de 12 metros de distância na bike há uma grande diferença entre pedalar com um grupo de 10-15 atletas e pedalar sozinho. Isso pode se resumir em motivação, por estar ali na frente, referência em ter atletas do mesmo nível cada hora um puxando no seu máximo, o que te leva ao seu máximo ou até a ultrapassar isso.

Então esse erro iniciou uma perseguição, e jogou o plano 1 fora, que era me manter no bloco até iniciar a corrida e disputar a prova na corrida. Coloquei tudo que tinha na volta da natação, peguei um grupo de atletas e permaneci com eles e fechamos em 29min e 38seg. Não sei exatamente a distância nem o pace pois nadei sem relógio.


T1 fiz a transição da melhor maneira possível, mas como tinha colocado muita força na água o corpo não estava respondendo muito bem.


Subi na bike e não pensei 2 vezes, vamos tentar voltar para o jogo (essa é a decisão que um profissional precisa tomar em uma prova, em que o Age-Group ou Amador não precisa, que é colocar tudo que você fez nos últimos meses em jogo) é tudo ou nada. Coloquei toda a força que tinha na bike, peguei 1 atleta logo no início, este não me acompanhou. Passei o primeiro lap. do chip com 43min e 50seg e 301w com 39.70kmph de média, isso com meu peso no dia da prova 67kg da 4.49w/kg. O grupo da frente passou o mesmo lap. com 41min e 15seg e 42.18kmph de média. Não tenho a informação de potência dos atletas, mas com certeza não foi maior q 4.5w/kg para uma distância de IronMan, é muita coisa tirando como base a potência do Campeão Mundial de 2019, Patrick Lange, usou na prova uma média de 4.05w/kg. Isso mostra o tamanho da dificuldade se um atleta de elite se desprender do grupo principal, pois mesmo com a regra dos 12 metros existem muitas variáveis que fazem um grupo de 10-15 atletas andarem mais rápido que um atleta sozinho. Voltando a prova, eu não tinha essas informações no momento do pedal, então meu único objetivo era tentar me aproximar dos atletas da frente, então mantive a potência que tinha, arriscando mais que o planejado. Chegando perto do retorno cronometrei a diferença de 6min do 1º atleta para mim, e vi que é muita coisa, ou seja, se 1 minuto para o grupo e igual a 10min na prova 6min já estava me aproximando de 1h de diferença devido à todas as variáveis que eu disse acima. Nisso joguei meu planejamento 2 fora, que era me aproximar do grupo e fui para o 3 plano, voltar para a potência de prova e fazer a minha prova. Só que logo quando liguei essa chave apareceu um atleta Norueguês que me passou, mantive uma média de 290w, e ele que tinha uns 2 metros de altura, fazia uma média provavelmente lá para os 330w, o que me deu uma pequena esperança. Mantemos ali a regra de 12 metros, mas cada hora um puxava um trecho. Fechamos a 1ª volta 90km à 285w 4,25w/kg, alto mas bom. Estava me sentindo bem, seguimos, passamos 2 atletas que não acompanharam e chegamos na subida principal da prova. Subi na potência planejada, mas com 1-2min um músculo da lombar vindo do glúteo e posterior fisgou, uma dor aguda muito forte, senti e perdi totalmente minha concentração e força, sentei fora do clip na subida e apenas pedalei, vi que entre 220-230w o corpo aceitava pedalar, mais que isso a dor aumentava e o foco sumia. Então planejei isso, acho que estava no km 120 ainda no início da subida, devido a forte dor, e sabendo o vento que tinha pela frente não ia passar de 220-230w mesmo ficando fácil pedalar. Aqui começa a atitude mental, pois é uma prova longa, você muito abaixo do seu ritmo de prova e da sua velocidade de prova, e sabendo que não tem mais condições alguma de disputar posição. Como trabalhamos muito a mente nos últimos meses eu desliguei os pensamentos e foquei na T2. E assim fechamos às 4h 57min e 38seg com 239w 3.56w/kg.


Chegou a T2, encaixei a bike no rack, fui mancando para pegar a sacola com o tênis e hidratação da corrida, coloquei o tênis sem sentar sabendo onde era a dor e poderia complicar sentar na cadeira. Sai para correr. 1km estava doendo mas aceitável, 2km piorou muito e travou a lombar o glúteo e a perna direita. Comecei a caminhar e pensar qual o próximo passo, sentar? Alongar? E fui caminhando, cheguei no 1º posto de hidratação e pedi gelo. Só tinha uma barra grande, peguei o pedaço, abri o zíper do macaquinho e coloquei nas costas. Peguei a ponta desta barra coloquei no ponto da dor e fiquei massageando e andando. Enquanto isso comecei a fazer os exercícios que o Thi Arruda me ensinou, alguns de respiração e outros de foco. Caminhei por alguns minutos e fui desligando os pensamentos, não tinha mais o que pensar nem plano algum para executar, era parar ali devido a dor ou abandonar a prova. Vieram dois pensamentos, o 1º minha família, tudo que eu passei como atleta para chegar onde cheguei, nos meus filhos e esposa tudo que eles passam com a minha ausência devido aos treinos e em todo o treinamento que eu fiz para aquela prova; em 2º veio também o peso de abandonar um IronMan, principalmente a África, onde eu já tinha um DNF em 2017. Foi nesse ponto que falei, deixa o gelo no lugar e agora vamos fazer o que for necessário e os danos causados no corpo, não importava desde que eu cruzasse a linha de chegada. Comecei a correr, foquei um ponto a frente desliguei a mente, não olhei mais relógio e fui impondo o ritmo. Entrei em ritmo de prova e continuei pelos 40km de corrida que faltavam. A dor voltava, eu focava e ela sumia, e foi assim durante as 3h e 18min de corrida. Fechando a prova em 20º colocado e 8h e 41min de prova não é meu recorde pessoal mesmo diminuindo a natação, mas estou feliz em ter completado a prova com nível mundial em 20º colocado.


Estou feliz, mas não satisfeito, e se eu tenho uma qualidade é dar a volta por cima. Então vamos nessa: Ficar mais forte e agora mais experiente.

6 anos nesse esporte e cada prova é um aprendizado e cada temporada eu fico mais forte e mais estável. Temos que respeitar claro todos os atletas da Elite pelo tempo de experiência e dedicação que esses atletas tiveram, parabenizar eles por passarem por tantas dificuldades que esse esporte trás. Saber que mesmo com toda a disciplina e foco do mundo não existe cortar caminho nesse esporte, precisamos passar as etapas de crescimento de força, dor, resistência e mental. Mas descobrimos que podemos passar esse caminho mais rápido, não podemos cortar caminho nem encurtar o caminho, mas acelerar esse processo através da disciplina máxima, foco, aguentar o que for preciso. E o principal dos últimos meses foi meu trabalho com o Thi na mente e no corpo e principalmente, essencial a ida dele para a África, abrimos várias portas de conhecimento de ambas as partes.


Agradecimento aos meus patrocinadores: REDE AUTOSHOPPING / IPIRANGA / GATORADE / FUSION ENERGY DRINK / SUCOS DO BEM / VEGANWAYBRASIL / FIVEDIAMONDS.

Agradecimento Especial para: Minha família, meu mestre Thi Arruda, que acompanhou do início à linha de chegada, meu parceiro de time Daniel Chaves que tem tido um papel fundamental na minha evolução, meu treinador Santiago Ascenço e todo o Time Projectone: Dr Antônio, Dr Jader, Dr. Montenegro, Dra. Camila, José Alessandro, Fabiano Dias, Pedro Henrique (Ambev), Beto (Veganway), Charles (Five Diamonds), Pedro e Vladimir Ipiranga.

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